Em geral, as pessoas desconhecem o fato de que tomam a maioria de suas decisões inconscientemente. Claro que em seguida, elas saem em busca de argumentos racionais para justificar as decisões tomadas. Muitas compras são realizadas por impulso, sem uma justificativa lógica, assim como muitas vezes a contratação de funcionários são decididas levando-se em conta aspectos irracionais. Mesmo em nossas relações interpessoais, gostamos ou deixamos de gostar de pessoas, por fatores que fogem a nossa percepção consciente.
“Num comercial de TV, a venda é realizada ou não nos três ou quatros segundos iniciais, assim como num anuncio impresso, 75% das decisões acontecem na leitura do cabeçalho. Numa demonstração promocional, a venda é feita ou não nos três minutos iniciais”. Estes dados são resultados de estudos feito por John Caples, “Tested advertising methods, Englewood Cliffs, NJ, Prentice-HALL.Inc.,1974 “, citados no livro “O Mito do Empreendedor”, (Editora Saraiva, 1986), de Michael E. Gerber. Estes são exemplos de decisões que tomamos diariamente sem termos consciência disto.
De que forma pode-se acreditar que as pessoas tomam decisões de negócios racionalmente, se as pesquisas provam que o terno azul-marinho, causa melhor impressão numa pessoa em uma reunião de negócio, e este aspecto pode influenciar o resultado da negociação? Dizem que Charles Revson, fundador da Multinacional Revlon, possuía 220 ternos, todos da cor azul-marinho!
Nos anos 70, a Pepsi lançou um ataque competitivo contra a Coca-Cola, na famosa campanha dos testes cegos. Foram veiculados pela TV, comerciais em que varias pessoas eram testadas, com vendas nos olhos, para escolherem o melhor refrigerante entre os dois. Apesar de a Coca-Cola ser a preferida do público, nos testes com venda nos olhos as pessoas preferiram, numa proporção de 3 a 2, a Pepsi. Isto é o que se pode chamar de uma decisão inconsciente.
Recentemente o jornalista americano Malcolm Gladwell, que é um dos mais novos gurus corporativos da atualidade, apresentou um conjunto de ideias interessantes sobre o assunto. Seu livro “Blink – The Power of Thinking Without Thinking”, que pode ser traduzido como (num piscar de olhos – o poder de pensar sem pensar), defende algumas ideias incomuns em função de nossa tendência a tomar decisões inconscientes.
Por exemplo, as entrevistas de empregos podem levar o recrutador a cometer erros por se deixar influenciar excessivamente pela aparência das pessoas e deixar de lado aspectos relevantes de sua competência profissional. Ele defende que as entrevistas de empregos deveriam acontecer inicialmente por telefone, e só na reta final, quando houver apenas dois ou três concorrentes aptos a assumir o cargo, é que deveria haver a entrevista pessoal.
O jornalista comenta que após assumir um estilo de cabelo exótico, tipo black power, começou a receber maior quantidade de multas no transito, apesar de não ter mudado seu modo de dirigir. Parece que a aparência de uma pessoa faz com que ela seja julgada de certa maneira. Ele revela que o numero de mulheres em orquestras americanas cresceu depois que os testes passaram a ser feitos com músicos escondidos atrás de um biombo.
Diante dos argumentos expostos, como conviver com a realidade de sermos tomadores de decisões inconscientes, às vezes num piscar de olhos? Este é um fator que precisa ser levado em conta, já que o processo foge ao nosso controle racional e algumas vezes decisões inconscientes podem resultar em situações inadequadas para pessoas e organizações.
Em primeiro lugar, e necessário reconhecer esta realidade, e preparar-se para utilizá-la de maneira positiva onde for possível. Por outro lado, devemos nos precaver para impedir que algumas decisões possam prejudicar pessoas e organizações.
Existem momentos e situações em que é fundamental uma tomada de decisão rápida e urgente. Médicos, policiais, bombeiro e tantos outros profissionais devem ser treinados a tomarem decisões rápidas, pois em determinadas ocasiões não poderão dispor de tempo e de informações para uma análise mais apurada sobre o assunto em questão. Nestes casos, somente poderão contar com sua intuição, com seus recursos inconscientes e com suas experiências passadas.
Por outro lado, quando podemos dispor de mais tempo e condições para analisar uma situação, devemos impedir que ideias pré-concebidas possam prejudicar nossos julgamentos. É o caso de uma entrevista de emprego, ou de avaliar uma pessoa apenas por sua aparência, sem levar em conta outros fatores que poderão ser muito mais importantes.
Da mesma forma, quando estivermos do lado oposto, sendo analisados ou julgados em determinada ocasião pessoal ou profissional, devemos levar em conta que diversos fatores como nossa maneira de vestir, a forma de nos expressar e nossa comunicação não verbal terão grande influencia no julgamento a que estaremos sendo submetidos. Por isto é fundamental entender esta realidade e nos preparar para ela.
Por exemplo, devemos desenvolver nossa capacidade de comunicação interpessoal, pois ela envolve muito mais do que apenas palavras. Na verdade, as palavras representam apenas uma pequena parte de nossa forma de expressão como pessoa. Estudos demonstram que numa apresentação diante de um grupo, 55% do impacto é determinado por nossa linguagem corporal (postura, gestos e contato visual), 38% pelo tom de nossa voz, e apenas 7% deste impacto está relacionado ao conteúdo de nossa apresentação (Mehrabian e Ferris, “Inference of attitudes from nonverbal comunication in two channels”).
Claro que estas percentagens podem variar dependendo da situação, mas sem dúvida a linguagem corporal e o tom de nossa voz fazem imensa diferença no impacto e no significado do que dizemos. “Não é apenas o que dizemos, mas como dizemos que faz a diferença”.
Fica claro que diversos fatores podem influenciar no processo de decisão de uma pessoa. Para as organizações, aspectos como cor e formato de seus produtos, assim como slogans e logomarcas terão influencia na decisão de compra de seus clientes. Para as pessoas, sua forma de vestir, a maneira como se apresenta e o modo como se comunica definirá sua receptividade e o poder de influencia que conseguirá.
Estes conceitos são essenciais, tanto para organizações e seus profissionais traçarem estratégias de relacionamento com os clientes como também para as pessoas em sua vida particular. É fundamental uma melhor compreensão do comportamento humano para tomar decisões.
Entender o processo de tomada de decisão das pessoas pode ser uma grande vantagem competitiva nas relações profissionais, e também uma grande vantagem em nossas relações interpessoais.