O Norte e os Países Capitalistas Desenvolvidos
Consideram-se como Norte, os países ricos ou industrializados: o primeiro mundo ou países capitalistas desenvolvidos, em primeiro lugar, e também os países mais industrializados do antigo mundo socialista ou segundo mundo, que desde o final dos anos 80 se voltaram novamente para o sistema capitalista.
Todavia, esses países ex-socialistas encontram-se ainda , em sua maioria, num estágio intermediário: são as economias de transição, na conceituação das organizações internacionais. Portanto, ainda não podem ser comparadas com as nações capitalistas plenamente desenvolvidas. Por esse motivo, vamos nos deter, neste capítulo, apenas nos países capitalistas desenvolvidos, que são os que se destacam no consumo, no comércio mundial, na produção industrial e na tecnológica.
O Primeiro Mundo
São integrantes desse mundo, com população de 15 % do total mundial, os EUA, Canadá, Japão, Israel, Austrália, Nova Zelândia e as nações da Europa Ocidental. São países muito industrializados, alguns até superindustrializados (EUA, Japão e Alemanha, principalmente).
Suas características principais são:
I. Apresentam estrutura industrial completa, ou seja, possuem em grande quantidade todos os tipos de indústrias, tanto de bens de consumo como de bens de capital.
II. Suas economias estão sempre na vanguarda da pesquisa e da inovação tecnológica. Os setores de ponta – como a informática, a química fina, os novos materiais, etc. – são gerados nesses países e aí aplicados com mais intensidade.
III. População urbana bem maior que a rural, situando-se normalmente acima dos 75% da população total de cada país. Essas sociedades são urbanas e também pós-industriais, onde um moderno setor terciário da economia (comércio e serviços) substituiu o setor secundário (industrias) como o grande gerador de empregos e rendimentos.
IV. São exportadores de manufaturados e tecnologia avançada, importando basicamente produtos primários (minérios e gêneros agrícolas). Em geral, cediam as grandes multinacionais do planeta e os principais bancos internacionais, sendo assim os maiores investidores de capitais no exterior.
V. Sua agropecuária ou setor primário, em geral, ocupa posição extremamente pequena na renda nacional (menos de 5% do total), embora seja moderna nas técnicas de produção, como a biotecnologia, por exemplo. Há tanto excesso de produção, que muitos governos chegam a pagar ao agricultor para não produzir determinados gêneros (ou então a estabelecer cotas máximas de produção).
Sociedades de Consumo
As sociedades dos países capitalistas desenvolvidos são comumente chamadas de sociedades de consumo. Tal expressão é usada porque os habitantes desses países usufruem intensamente todos os bens e serviços existentes no mundo moderno.
Nos Estados Unidos ou no Japão, uma família de classe média possui normalmente dois ou três automóveis, igual quantidade de televisores e vários aparelhos eletrodomésticos, alguns até dispensáveis.
A cada ano, sob pressão da propaganda, compram-se coisas novas e abandonam-se objetos ainda em boas condições de uso.
Somente os sete países mais industrializados do primeiro mundo – EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha e Canadá -, que juntos possuem pouco mais de 10% da população mundial, consomem mais de 80% dos recursos minerais do planeta.
O Capitalismo Monopolista
No século XIX, a economia capitalista estava numa fase chamada de Capitalismo Competitivo: cada ramo da atividade econômica (calçados, laticínios, serviços bancários, etc.) era ocupado por grande número de empresas, normalmente pequenas ou médias, que disputavam acirradamente o mercado. O Estado quase não interferia na economia, ficando sua ação limitada à política.
No século XX, o capitalismo tomou uma forma monopolista, devido a dois processos principais:
I. Ocorreram várias fusões de empresas, falências e compras de uma menor por outra de maior porte. O resultado disso é que existem hoje os monopólios (uma grande empresa que controla sozinha um ramo de atividade) e os oligopólios (um pequeno número de empresas grandes que exercem esse controle). A competição, portanto, sofreu uma diminuição de intensidade, passando a se dar num nível diferente. Agora, pode-se dizer que há mais acordos que competição. Com isso, formam-se os cartéis, que consistem em acordos obscuros entre empresas que produzem artigos similares. Algumas leis foram criadas no sentido de coibirem a formação desses grupos, que controlam artificialmente os preços, prejudicando a sociedade.
II. Com o objetivo de evitar as crises (como a de 1929), o estado passou a intervir na economia. Tal intervenção não é tão intensa como na economia planificada dos socialistas, mas exerce influência decisiva em todas as atividades econômicas. O Estado passa a controlar os créditos (juros bancários, condições gerais de empréstimos), as exportações e importações (seja através de tarifas alfandegárias, seja proibindo a importação de certos produtos ou incentivando a de outros).
Lutas Populares e Democracia
O elevado padrão de vida e de consumo que os habitantes dos países do primeiro mundo usufruem, tem suscitado, basicamente, dois tipos de interpretação. Para alguns estudiosos, a explicação está na exploração que esses países exerceram sobre os países subdesenvolvidos: os trabalhadores dos países ricos teriam se beneficiado, ao longo de décadas de exploração, com a transferência de riquezas provenientes do terceiro mundo. Para outros isso não é correto: a grande razão seria a organização social e política dos trabalhadores destes países, com regimes democráticos. Ambas as visões possuem elementos verdadeiros.
A explicação fundamental para esse padrão de vida relativamente elevado é a democracia, que resultou de intensas lutas populares. É importante frisar que as instituições democráticas desses países ainda continuam sendo aprimoradas.
O Estado de Bem-Estar social e seus impasses atuais
A partir do início do século XX, e com maior intensidade após a década de 50, o sistema capitalista sofreu grandes mudanças nos países desenvolvidos. A principal delas foi a diminuição da taxa de exploração dos trabalhadores; outra mudança foi a melhoria das condições de vida da população em geral. A ação do Estado foi decisiva nesse sentido, pois ele passou a utilizar os recursos públicos (impostos) para criar um amplo sistema de bem-estar social.
O nome empregado para designar essa situação é "Estado de Bem-Estar Social" ou "Estado Assistencialista".
Em todos os países ricos existe um Estado assistencialista. Todavia, sua origem encontra-se na chamada Socialdemocracia, que prevalece ou prevaleceu por várias décadas em alguns países – Alemanha, Suécia, Dinamarca, Inglaterra e outros -, e acabou influenciando os demais Estados das nações capitalistas desenvolvidas.
Tal sistema, de fato, conseguiu humanizar o capitalismo: no final do século XIX, a média da carga de trabalho, mesmo para mulheres e crianças, era de 14 horas por dia, incluindo o sábado: os salários eram baixíssimos e as condições de moradia, extremamente precárias. Hoje, a realidade nesses países é muito diferente: a média da carga de trabalho é de 6 a 7 horas por dia, com folga no sábado; geralmente vigora a proibição de trabalho para menores de 18 anos (que só devem estudar); os salários normalmente permitem que os trabalhadores comprem automóvel e até casa própria; esses benefícios são possíveis até mesmo para trabalhadores não qualificados (faxineiros, lixeiros, ajudantes, etc.).
A partir dos anos 80 houve uma reação contra o "Estado de bem-estar social", baseada nas privatizações de empresas ou setores controlados pelo Estado, principalmente na Inglaterra e EUA, numa tentativa de reduzir os encargos sociais do Estado, transferindo para a iniciativa privada determinados setores onde os gastos públicos eram intensos (correios, investimentos em habitações populares, etc.).