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A culpa é nossa! Como é 'bom' saber disso

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Tem coisa melhor na vida do que um “bode expiatório”? Sim! Aquela figura sobre a qual jogamos toda a culpa, inclusive aquelas que são nossas e que, ou por não termos conhecimento ou preferirmos fazer de conta que não nos pertence, jogamos na conta desse pobre animal.

É um alívio, afinal agora posso “seguir” minha vida em paz, já que o que me acontece hoje não é culpa minha, de minhas escolhas, mas daquela situação ou pessoa que eu sempre culpo quando tudo dá errado.

O psicanalista Sigmund Freud trabalhou esse fenômeno psíquico vendo-o como uma projeção psicológica que em sua visão é um ato inconsciente de negação de características próprios de uma pessoa, pensamentos e emoções, que são atribuídos ao mundo exterior, como os governos (esses, por sinal, sempre fáceis de culpar), ou outras pessoas, acreditando ingenuamente que os outros têm os mesmos sentimentos ou motivos, desconsiderando o que realmente eles sentem ou pensam.

A natureza da projeção é muito profunda e sutil, sendo, por isso mesmo, extremamente difícil de ser percebida, porque, pela sua natureza, é oculta. É, em outras palavras, o mecanismo emocional fundamental com o qual conseguimos a façanha de nos mantermos desinformados sobre nós mesmos.

Ilustração para Bode ExpiatórioQuando projetamos, conseguimos distorcer a realidade externa de tal forma que fazemos com que ela ganhe vida própria e, o que é muitíssimo cômodo, que ela seja a responsável por eventos que, na grande maioria das vezes, somos nós os responsáveis. Seria como se você percebesse que o objeto externo (situação ou outra pessoa) tem essas tendências, desconhecendo que a origem está em você mesmo.

Charles Sanders Peirce, um dos grandes nomes da semiótica que estuda os sistemas de significação, estava ciente da existência de projeção. Ele escreveu: "Eu acho que é provavelmente verdade que cada elemento da experiência é, em primeira instância, aplicado a um objeto externo. Um homem levanta-se do lado errado da cama, por exemplo, atribui a incorreção de quase todos os objetos que ele percebe. Esta é a maneira em que ele experimenta seu mau humor”, ou seja, a culpa está nos objetos e não nele que se esqueceu de tirar o tênis do lado da cama e por isso tropeçou, mas ele prefere acreditar que foi uma conspiração cósmica para que ele já acordasse o dia caindo.

Apesar da banalidade do exemplo, a clareza de sua compreensão é muito válida. Os eventos externos, mesmo quando não provocados por nós, não tem o poder que atribuímos a eles. Eles são o que são, simplesmente acontecimentos, mas a minha reação a estes eventos ou pessoas é quem vai determinar a minha vida.

Isso é muito importante ressaltar. É praticamente impossível para qualquer evento externo, por si só, nos causar os sentimentos de raiva, tristeza, felicidade, desespero ou qualquer outra sentimento que existe no continuum de possíveis emoções humanas. Impossível! O que é acionado é a minha raiva, o meu medo, ou desejo, ou assim por diante, pois os eventos externos servem simplesmente como gatilhos para acionar nossos próprios esquemas internos, estes sim, determinantes na forma como experimentamos o mundo.

O crescimento emocional demanda de nós a coragem de desconstruir mitos pessoais nos quais acreditamos por toda uma vida. É preciso destruir lentamente, centímetro por centímetro, a cortina obscura desse truque psicológico que é a projeção, que nos mantem alienados de nós mesmos.

Sem dúvida, remover completamente este processo de projeção nos faria algo diferente do humano e não chegamos ainda a esse nível. Mas, se pelo menos fizermos isso de forma mais consciente iremos acordar, sair da Matrix pessoal que montamos para nos enganar e fugir dessa verdade inconveniente: a culpa é nossa!

b_82_106_16777215_01_imagens_autores_rossandro-klinjey.jpgPsicólogo Clínico com Mestrado em Saúde Coletiva atua desde 2001 em seu consultório particular. Como professor leciona nos cursos de Administração de Empresa, cursos da área de saúde, bem como em especializações nas áreas de: recursos humanos, gestão de pessoas, gestão pública, gestão estratégica, marketing, educação, entre outros.

Como palestrante atua nas áreas de recursos humanos, motivacional, liderança, perspectivas da educação, relações interpessoais, desenvolvimento emocional, gestão de pessoas, serviço público, cultura de paz, entre outros.

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