As redações dos jornais recebem várias cartas diariamente, por isso você terá de fazer com que sua carta se sobressaia para que seja publicada. Aqui vão algumas dicas úteis:
Como sempre, preste atenção à apresentação e à limpeza da carta. Forneça seu endereço e escreve seu nome de maneira bem legível. Não importa o quão bem-fundamentada seja sua linha de argumentação, uma apresentação confusa irá sempre levantar dúvidas a seu respeito na cabeça do editor - e os editores geralmente relutam em publicar qualquer material de fonte duvidosa.
Explique logo no início por que você está escrevendo a carta. O método mais simples é expor sua opinião na primeira frase, e mostrar por que você pensa daquela maneira na segunda. A entrevista de Eveli Figueiredo com o ministro no programa "Notícias da Noite", na terça-feira, foi muito fraca. Ela não conseguiu arrancar do ministro qualquer resposta que interessasse ao ouvinte comum, além de deixá-lo totalmente à vontade para fazer propaganda do atual governo.
Procure sustentar suas opiniões com provas e argumentos irrefutáveis. E, sempre que vier ao caso, dê suas credenciais. Sua carta sobre a violência nos campos de futebol terá muito mais chance de ser publicada se você for um juiz ou um jogador.
Deixe bem claro seus interesses. Se você estiver escrevendo contra o aumento da tributação das bebidas alcoólicas e for o gerente de uma firma de relações públicas a serviço de várias companhias importantes de cerveja, "assuma" sua posição e seus interesses. A colocação de seus interesses muitas vezes favorece a publicação de sua carta - mesmo que seja apenas para provocar uma resposta.
Prezado Senhor,
Construções nos Campos Elíseos, em São Jose das Cruzes
Nos últimos vinte anos temos visto nossa pequena cidade ser absorvida pela expansão dos subúrbios. Temos testemunhado o desaparecimento de belas paisagens, que sucumbiram ao avanço dos concreto.
Tudo o que restou dos antigos Campos Elíseos foram pequenos prados e arvoredos, últimos refúgios da vida selvagem na região, usados agora como área de jogos e piquenique pela população local. Se a proposta apresentada à prefeitura (relatada na edição do dia 18 de abril desta publicação), de transformar os Campos Elíseos numa área industrial, for aprovada, até mesmo o pouco que restou da nossa natureza será destruído.
Por que é que a prefeitura está tão encantada com esse plano? Esta cidade certamente tem espaço de sobra para novas construções. Por que não usar o terreno da antiga fábrica de tecidos? Ou os terrenos ao longo da Rua João de Queiroz? A área dos Campos Elíseos é única.
Por isso, rogo ao conselho: salve a região rural e preserve-a para os moradores da área, para seus filhos e para as futuras gerações.
Seja conciso. Faça seus comentários, ou exponha sua queixa e argumento, com clareza e vigor. Só enumere as razões e os argumentos que lhe pareçam mais importantes.
Acima de tudo, esforce-se para compor uma carta interessante, inteligível e animada. Tente manter um certo senso de humor mesmo ao discutir assuntos sérios. Se você precisar fazer algum tipo de crítica, lembre-se de que terá mais chances de convencer as pessoas usando um tom satírico que apelando para insultos passionais e, o pior de tudo, ofensas. Procure apresentar-se como uma pessoa calma, racional, honesta e tolerante. Forneça seus próprios exemplos e inclua algum detalhe relativo à sua experiência pessoal.
Explique como o assunto em questão o afeta. Tente mostrar-se como um ser humano e não como o dono da verdade.
A quem se dirigir
Normalmente as cartas enviadas aos jornais e às revistas devem ser dirigidas ao Editor e começar com Prezado ou Caro Senhor (ou Senhora). Se a carta não se destinar a publicação, mas discutir determinado assunto, pode-se ser mais específico e dirigir-se, por exemplo, ao Editor de Notícias, ou Editor de Publicidade.
Na carta abaixo, enviada a um jornal, o autor dá sua opinião de modo sucinto e claro.
A maior parte das cartas enviadas à imprensa é de cunho político, mas os editores apreciam as controvérsias suscitadas por cartas abordando outros tipos de assuntos - especialmente se elas vão estimular mais leitores a enviar suas opiniões.
Eis aqui um exemplo de carta leve que você poderia facilmente encontrar num canto da seção de cartas de um jornal:
Prezado Senhores,
Hoje é comum as crianças imitarem tudo o que vêem na televisão. Como pais, porém, devemos estar atentos àquilo que está sendo imitado para que nossos filhos aprendam a distinguir o certo do errado e não imitem tudo automaticamente. Entretanto, como atualmente os pais trabalham o dia inteiro, fica muito difícil acompanhar de perto os "modelos" que as crianças estão seguindo a partir da programação 'infantil" apresentada pela televisão no período diurno.
Na última semana, devido a uma forte gripe, fui dispensada do trabalho por dois dias e pude observar duas coisas: o forte conteúdo erótico e a enorme violência veiculada nos filmes e desenhos animados.
Em vista dessa realidade, gostaria de saber a opinião dos outros leitores deste jornal sobre as seguintes questões:
1. As televisões não precisam ter preocupações educacionais quando estão em busca de audiência, mesmo quando se trata do público infantil?
2. Como poderíamos controlar o conteúdo da programação infantil das televisões sem que isso configurasse uma restrição à liberdade de expressão?
Atenciosamente,
Silvia Corrêia
Assinatura