Segundo GOGA (1988), o primeiro literato a divulgar o haikai no Brasil foi Afrânio Peixoto (1875-1947), em 1919, através de seu livro “Trovas... Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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A Chegada do Haikai no Brasil

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Segundo GOGA (1988), o primeiro literato a divulgar o haikai no Brasil foi Afrânio Peixoto (1875-1947), em 1919, através de seu livro “Trovas Populares Brasileiras”, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês: “Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível” (GOGA, 1988, p. 22).

Apesar dessa afirmação, GOGA (1988, p. 23) sustenta que podem existir margens para novos estudos sobre essa evidência histórica, mas considera o testemunho de Jorge Fonseca Júnior (1912-1985), poeta e haicaísta, muito valioso, conforme carta que este o deixou, pouco antes de sua morte, afirmando o pioneirismo de Peixoto na divulgação e cultivo do haikai no Brasil.
Por mais que a figura de Afrânio Peixoto seja a mais importante quanto à difusão do haikai no Brasil, GOGA (1988, p. 26) acredita na possibilidade de que tenha havido outro ou outros divulgadores antes dele, pois, antes de 1919, já haviam sido publicadas muitas obras em português sobre o Japão.

Credita-se a Francisco Antônio de Almeida o livro mais antigo escrito por um brasileiro sobre esse país, em 1879, sob o nome de Da França ao Japão. Há ainda outros livros, como por exemplo: No Japão, de Oliveira Lima, de 1903, Extremo Oriente – o Japão, de 1907, Cartas Japonesas, de 1911, de Luiz Guimarães Filho e Memórias de um Cônsul no Japão, também de 1911, de Manoel Jacinto Ferreira da Cunha, entre outros. Porém, todos estes livros não foram lidos por GOGA (1988, P. 26).

Como fonte de Afrânio, GOGA (1988, p. 29) afirma que não era direta do haiku do Japão e sim de uma re-tradução da versão feita para a língua francesa, pois no rodapé de seu livro há uma referência francesa: P. L. Couchoud, Sages et Poètes d’Asie, Paris, 1918. Atribui o mesmo procedimento aos haicaístas posteriores a Afrânio Peixoto e que estes buscaram ainda em fontes de língua inglesa ou espanhola.

GOGA (1988, p. 30) menciona ainda o nome de Wenceslau de Moraes (1854-1929) como divulgador da cultura japonesa em língua inglesa no mundo inteiro e em idioma luso através de seus livros publicados nestas línguas. Seu nome é citado no livro de Waldomiro Siqueira Júnior, Quatrocentos e vinte haikais, de 1981, onde este atribui seu interesse pelo haikai a partir da leitura do livro Relance da Alma Japonesa, do próprio Moraes, em 1926.

Como fonte nipônica do ainda haiku, em sua forma original, GOGA (1988, p. 30) atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908. Nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu. Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku (GOGA, 1988, p. 33):

A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.

A realidade dos imigrantes japoneses era a de muito trabalho e de vida apertadíssima, não tinham tempo de pensar em haiku. Somente a partir de 1926, isso começa a mudar.
Através da Aliança, núcleo colonial japonês, Kan-ichiro Kimura (1867-1938), de nome haicaístico Keiseki, e Kenjiro Sato (1898-1979), de nome haicaístico Nenpuku, lideraram um movimento de cultivo e difusão do haiku tradicional que serviu como alicerce para o “mundo haikuísta” da colônia japonesa que contava com cerca de mil discípulos.

É na década de 30 que acontece o intercâmbio e difusão do haiku entre haicaístas japoneses e brasileiros, constituindo assim outro caminho do haikai no Brasil. É nesta década também que aparece a mais antiga coletânea de haikais chamada simplesmente Haikais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haikais. Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro de haikais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento – Haicais.
Conforme os estudos de GOGA (1988), podemos resumir cronologicamente as rotas do haikai no Brasil da seguinte forma:

  • Em 1879, através do livro Da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
  • Em 1908, através da chegada dos imigrantes japoneses no porto de Santos.
  • Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
  • Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colônia por Keiseki e Nenpuku.
  • Na década de 30, através do intercâmbio entre haicaístas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga, conforme já vimos.

Com a ambientação e a difusão do haiku em língua portuguesa, algumas correntes de opinião (GOGA, 1988, p.37) sobre o mesmo se formaram: A) A corrente dos defensores do conteúdo do haiku; B) A corrente dos que atribuem importância à forma; C) A corrente dos admiradores da importância do kigo.

Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como a concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaísta que aderiu a essa corrente.

Os que consideram a forma (teikei) a mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu a essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haikais “guilherminos”. Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:

_______________ X 
___ O ______________ O
_______________ X

Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haikais. Exemplo (GOGA, 1988, p. 49):

Histórias de algumas vidas

Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.

Os admiradores da importância do kigo vão respeitar em seus haikais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior é um deles.
Apesar de haver essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como o de Afrânio Peixoto, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Abel Pereira e Fanny Luíza Dupré são referências na história do haikai no Brasil, conforme GOGA (1988).
Atualmente, temos no Brasil uma geração de grandes haicaístas, os quais, para não cometermos alguma injustiça, não os citaremos aqui, pois pecaríamos por não citar todos.

Referência

GOGA, H. Masuda. O haicai no Brasil. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1988.

Obs: Este texto foi extraído do TCC “O HAIKAI EM SALA DE AULA”, de Alvaro Mariel Posselt, Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, junho de 2007.