As Moiras eram as três filhas geradas por Nix, a Noite, através de partenogênese, isto é, sem o auxílio de um consorte masculino. Eram elas Cloto, a fiandeira, a qual era responsável por puxar o fio da vida, Láquesis, a sorteadora, quem determinava quem deveria morrer e por fim, Átropos, a inflexível, que decidia a duração da existência humana. E foram justamente elas, as senhoras absolutas do destino do homem que visitaram Altéia, esposa de Eneu, rei do Calidão, logo após o nascimento de seu filho Meléagro.
Com sua visita, pairou uma sombra naquele reino pois as três trouxeram uma triste notícia aos pais do rebento: predisseram que a sorte da criança estava diretamente relacionada ao tição que crepitava na lareira. Assim que este se consumisse por inteiro, Meléagro morreria imediatamente. Altéia, tão logo soube disso, apagou o fogo e guardou o pedaço de lenha restante num cofre para assim prolongar a vida do filho. Os anos foram se passando e o jovem cresceu, tornando-se o mais famoso herói de Calidão.
Sucedeu que terminada a colheita do ano, que por sinal havia sido muito boa, o rei oferecendo sacrifício aos deuses se esqueceu de homenagear Afrodite , a deusa da beleza.
Esta, sentindo-se gravemente ofendida, resolveu punir Eneu, enviando a seu reino uma terrível fera para devastar a região. Tratava-se do Javali de Calidão, uma terrível criatura de cujos olhos saíam chamas mortais, em cuja boca, capaz de emitir raios mortíferos, haviam dentes gigantescos, prontos a devorar carne humana. Tão logo surgiu, principiou a devastar a região, pois incendiava as plantações, matava pessoas e decepava as árvores. Tudo ali era desolação até que enfim, Meléagro resolveu intervir. Para tanto, resolveu convocar os mais famosos heróis da Grécia para ajudá-lo.
Formou-se então um exército composto por nomes como o argonauta Jasão , os gêmeos Castor e Pólux, Teseu e seu amigo Pirítoo, Telamão e Peleu, filhos de Éaco. Além destes, participaram também da empreitada o profeta e adivinho Anfiarau e Atalanta, esta última, forte e corajosa como um herói. Seus pais, por desejarem um filho varão a abandonaram na floresta, mas Ártemis , penalizada, entregou a criança para ser alimentada por uma ursa.
Cresceu e viveu na floresta, sempre agradecida a Ártemis a quem dedicava sua castidade. Em sua natureza, a jovem se assemelhava em muito às Amazonas , pois ambas almejavam viver fora do jugo masculino e ter o poder de decisão sobre suas próprias vidas. Partiram assim para a caçada. Inicialmente, o monstro foi ferido por uma flecha disparada por Atalanta e por ser ela a realizar essa façanha audaciosa, a de dar o primeiro golpe na fera, mereceu a admiração e o amor do filho de Eneu.
A caçada prosseguiu até que, por fim, Meléagro logrou cravar-lhe uma faca no dorso do animal. Julgando que a caçadora, por ser a primeira a atingir a fera com uma flecha era merecedora de homenagens, o filho de Altéia entregou-lhe a cabeça do javali como prêmio. Todavia, seus tios, irmãos de sua mãe, irritaram-se com tal atitude, reclamando para si os despojos do animal. Deflagrada a contenda, Meléagro, terminou por assassinar os próprios tios e Altéia, movida por ódio cego, abriu o cofre, retirou o pedaço de lenha há anos guardado e o atirou novamente ao fogo. Bastou que o tição se extingui-se para que o jovem herói tivesse sua gloriosa existência encerrada. Altéia, desesperada e consumida pelo remorso se suicidou.
Existe uma outra versão segundo a qual Ártemis foi a deusa ofendida por ser preterida pelo rei Eneu em suas homenagens. A deusa da caça e dos animais selvagens, foi responsável por enviar à região a terrível criatura para punir aquela população tão infiel e ingrata. Meléagro reuniu os melhores caçadores etólios e partiu para a caçada ao javali, tarefa da qual também participaram os Curetes. Liquidada a criatura, os dois grupos, Curetes e caçadores, se envolveram numa grave disputa pela posse dos despojos do javali. Seus tios maternos, resolveram também reivindicar a pele e a cabeça do animal e foram por isso mortos por Meléagro. Embora casado com Cleópatra, filha de Idas, teve segundo uma versão um filho nascido de sua união com Atalanta, chamado de Partenopeu.